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História

ASSIM NASCEU SÃO SIMÃO/GO

Por José Americo De Barros Mello

A história da cidade de São Simão está diretamente ligada ao volume e a força das águas do Rio Paranaíba, que durante milhares de anos superou a resistência da rocha, criando uma das mais belas imagens da natureza. Trata-se do Canal de São Simão, um estreito petrificado com aproximadamente 600 metros de largura. Entretanto, esse acidente da natureza que foi cenário paradisíaco para milhares de turistas e moradores locais, ficou submerso após a construção da Usina Hidrelétrica de São Simão, pelas Centrais Elétricas de Minas Gerais – Cemig.

Hoje, a nova cidade de São Simão, reconstruída com infra-estrutura urbana, está às margens do Lago Azul, formado pela barragem da usina e ocupa uma área de 674km2, com um volume de 17 bilhões de m3 de água, formando várias ilhas e praias. Um extraordinário potencial de turismo que São Simão oferece à sociedade e aos empresários que queiram investir na indústria que mais cresce no País – a do turismo.

O município tem sua origem no antigo povoado de São Simão, iniciado em 1930, por garimpeiros de diamantes e pescadores. Localizado às margens do Rio Paranaíba, divisa de Goiás com Minas Gerais, o povoado passou a receber as primeiras moradias após a construção da ponte interligando os dois Estados, em 28 de outubro de 1935.

Com a instalação do primeiro posto fiscal no local, as residências foram se formando nas adjacências da repartição fazendária. São considerados como fundadores e pioneiros do povoado do Canal de São Simão, assim denominado após a instalação da Ponte Leopoldo Moreira, Alberto Reis Machado, Andiara Bitencourt e Antonio Santarem.

No dia 24 de junho de 1957, através da Lei Municipal n° 24, o povoado do Canal de São Simão foi elevado a distrito, com o nome de Mateira, ligado a Paranaiguara. Por força da Lei Estadual n° 2.108, de 14 de novembro de 1958, o distrito de Mateira foi elevado à categoria de município, com a denominação de São Simão, sendo seu distrito judiciário subordinado à Comarca de Paranaiguara. José Waldemar da Silva foi nomeado primeiro prefeito de São Simão.

No dia 3 de outubro de 1975 foram instalados, oficialmente, os poderes Executivo e Legislativo da nova sede do município de São Simão, sendo nomeado prefeito, nessa data, Salvador Jose Jacinto.

Por sua posição geográfica (a mais centralizada unidade da federação brasileira) e dificuldade de acesso (Rio Paranaíba em pequena parte do lado mineiro e selva em todas as demais confrontações), primitivamente constituída pelos, hoje Triângulo Mineiro e posterior desmembramento do Estado de Tocantins, até 1930 a ex Província de Goiás era um dos Estados brasileiros de menor densidade demográfica.

Em certo trecho do Rio Paranaíba (que na normalidade do seu leito regular não ultrapassava de duzentos metros de um lado ao outro, ali, ao se deparar com um submerso patamar rochoso que não conseguiu subjugar, o Rio Paranaíba entendeu de se expandir para os lados. No período de estio, naquele alargamento a corrente líquida se distendia por cerca de dois quilômetros de comprimento, atingindo uma largura variável de cento e oitenta metros a oitocentos metros (na seca). Todavia, quando no tempo das chuvas, o volume das águas aumentava e transversalmente chegava a atingir mil e seiscentos metros. A este sítio, no lugar em que as águas descontraidamente se espalhavam, os goianos carinhosamente intitulavam “Rasura” ou “Rasoura”. E em sequência, outros acidentes geográficos se apresentavam, cada um, carinhosamente designado por uma denominação afável, pertinente à ocorrência. Eram sucessivas maravilhosas obras de arte, monumentais realizações em que, por milhares de séculos a Natureza e o Tempo, juntos, se empenharam para proporcionar à despreparada e ingrata espécie humana, que a refugou.

De um dos lados do rio se situavam terras mineiras. Bem próximo de uma das margens se localizava o povoado de Chaveslândia (sobrenome de um dos primeiros moradores, que após o falecimento, pelos seus companheiros de convivência, emprestando o seu nome à localidade foi merecidamente homenageado. Enquanto nas terras mineiras todo o conjunto era conhecido por um só nome “Canal de São Simão”, no lado goiano se dividia em sete: Rasura, Canal, Dançarinas, Canto das Águas, Fumaça, Arco-íris e Redemoinho.

Até 1930 o lado goiano do sítio fronteiriço a Chaveslândia era desabitado. Poucas pessoas aceitavam permanecer naquela localidade. Unicamente empregados e familiares destes

l — gente aguerrida — por força das circunstâncias se mantinha ali, substituindo os proprietários rurais. Os donos das terras não consentiam a prática do garimpo. Não obstante — aventureiros audazes — garimpeiros dissimulados se ocultavam nos latifúndios, para a exploração de jazidas. Mantinham-se dispersos, praticamente trabalhando individualmente. Para não deixarem sinais da sua indesejável presença evitavam ajuntamentos.

Desde o Rio Paranaíba até o Rio Alegre, as terras goianas pertenceram a Ricardo Campos que as vendeu a Virgílio Rodrigues da Cunha o qual, pelo seu temperamento irascível detinha a alcunha de VIrgílio Pólvora. Para cuidar do seu latifúndio este inicialmente contratou Antônio Matos, que logo foi substituído por Domiciano Ferreira, a primeira pessoa destemida que fixou moradia naquelas bandas, perto do Rio Mateira.

Para o ajudar, Domiciano convidou João Santana da Silva (além de lavrador, garimpeiro), consentindo que nas folgas bamburrasse junto ao Rio Mateira. João Santana teve a sorte de encontrar um xibiu de quarenta pontos. Não conseguindo manter o seu contentamento, assim que foi ao povoado providenciar mantimentos divulgou a auspiciosa notícia a meia dúzia de pessoas ali presentes. Foi o bastante: como rastilho de pólvora a informação se alastrou e logo, intrusos de todos os cantos, até dos longínquos Estados do Nordeste e Norte vieram ali ter, para tentar a sorte.

A invasão de estranhos irritou Virgílio Rodrigues da Cunha que convocou a polícia. A milícia conseguiu expulsar os usurpadores. Todavia, momentaneamente. Mal os guardas se retiraram, todos retornaram e prosseguiram no seu trabalho, como se nada houvesse acontecido. Impossibilitado de controlar a situação Virgílio resolveu vender as terras invadidas. Gilberto de Oliveira Marques adquiriu uma área a partir do Rio Paranaíba. Adiante, Eulâmpio Jacob

adquiriu outro grande lote. Informado das vendas, morador em Chaveslândia, Oscar José Bernardes se interessou e transacionou a parte restante, justamente a que em maior número os garimpeiros começavam a se assentar. Oscar Bernardes consentiu que em suas terras os mineradores bamburrassem.

Ao longo do Rio Mateira muitas choupanas foram erguidas e depressa um povoado se desenvolveu. Não demorou para que os garimpeiros enriquecidos com o produto das vendas pretendessem ter um terreno próprio e próximo ao local do seu trabalho. Oscar José Bernardes começou a vender lotes de terrenos e fez fortuna. Gilberto de Oliveira Marquês, embora consentisse que os garimpeiros se movimentassem livremente em sua fazenda, vacilava em se desfazer de lotes.

Depois de 1930, caminhando individualmente ou em grupo, muita gente deixou Minas Gerais e veio para Goiás e Mato Grosso, em busca de emprego. Geralmente, os transeuntes procediam de localidades antecedentes ao hoje Triângulo Mineiro que, até 1816 pertenceu a Goiás. Atravessando Uberaba (fundada em 22.02.1826), Uberlândia (emancipada em 31.08.1888) e Ituiutaba (criada em 16.09.1901), passavam por Santa Vitória (desmembrada em 27.12.1948) e chegavam no povoado (ainda hoje) distrito de Chaveslândia, adjacente à divisa de Minas Gerais com Goiás, não muito distante do local que antes de agosto de 1930 os mineiros já designavam como Canal de São Simão.

Em um dos lados do rio, no Estado de Goiás, habitavam os índios goiá, tribo que recusava qualquer contato com o homem branco, e devido a presença deste (a cada dia maior quantidade de andarilhos) acabou se afastando para outras plagas. Até então, somente tropeiros e boiadeiros, caçadores e pescadores (todos, circunstancialmente), além de garimpeiros (com assiduidade e permanência) frequentavam aquela região.

Contou-me o Sr. Manoel Marra (cidadão morador no distrito de Itaguaçu até 2005, quando faleceu e onde popularmente era mais conhecido como Manoel Benzedor), que no final da tarde do dia 28 de outubro de um ano da década de 1920, dois barcos conduzindo quatro pessoas cada um, desciam o Rio Paranaíba. Remando, ao passarem por uma vasta praia arenosa avistaram um monge segurando uma serra enorme em uma das mãos, e na outra, um galho seco que usava como cajado. O religioso arremessou o bastão que trazia na mão direita para o braço esquerdo (o mesmo que segurava a serra), e com a mão direita desocupada começou a acenar alvoroçadamente, gesticulando para que os remadores viessem ao seu encontro.

O sol havia alcançado a linha do horizonte e os seus raios debilitados já não expediam tanta luminosidade. Os remadores pretendiam prosseguir mais alguma distância até que escurecesse completamente. Mas percebendo o desespero do sacerdote resolveram chegar até a praia para atendê-lo. Quando alcançaram a margem do rio, desceram dos barcos e tentaram localizar o ascético, uma vez que remando de costas o perderam de vista.

A alvura da areia que se espalhava por grande distância à beira da água que nela sucumbia insinuava abstinência de frequentadores. O areal compunha uma faixa de cerca de dez metros, além da qual surgia uma cerrada grama rasteira que se afastava por menor distância para diante e se interrompia ante uma imensa e compacta área de arbustos com aproximadamente dois metros de altura, a qual servia de reposteiro às tentativas de qualquer observador. Tentaram entrar na mata, mas por espessa, não conseguiram. Desistiram da busca. O chão de alva areia, não aparentava qualquer mobilização, nenhuma pegada. Ficaram perplexos.

O manto escuro da imperadora noite já começava a se espalhar pelo firmamento. Desistiram de prosseguir nas buscas ao frade e na continuidade da viagem. Resolveram puxar os barcos mais para arriba, deixando-os bastante afastados da superfície líquida. Fariam sua refeição ali, pernoitariam e no dia seguinte, descansados, para prosse-guimento da jornada, bem cedo partiriam.

Dividiram-se. Dois procurariam galhos secos para servirem como lenha, outros dois, providenciariam água potável, mais dois preparariam os recipientes e elaborariam a refeição e os restantes dois, escolheriam o local da dormida e montariam a barraca, abrigo que comportava a todos.

Durante a refeição não puderam deixar de estranhar o incidente. Todos enxergaram o monástico. Mas o desaparecimento do mesmo e de rastros, redundava em negação da visão. Conquanto não muito altos os arbustos, para ultrapassa-los seria necessário desbasta-los a golpes de facão: só um espectro transpassaria aquela atravancadora cerca vegetal.

Com galhos ressecados que por ali juntaram, acenderam uma fogueira próxima a barraca de grossa lona, que já se encontrava armada sobre a macia areia. Alimentaram-se, acomodaram-se e rápido adormeceram.

Eram pouco mais de seis horas da manhã quando despertaram com os primeiros clarões da alvorada. Escutaram um ruído fragoroso, bem mais vigoroso que o percebido na véspera. Parecia o ribombar de larga e elevada queda d’água. Deixaram os barcos ali e resolveram caminhar até o local de onde o estrondoso ruído provinha. Percorreram pouco mais de um quilômetro. O Rio Paranaíba normalmente mantinha uma largura de cento e oitenta metros. Em determinado trecho, do final do rio e início de um aparente lago, por cerca duzentos e cinquenta metros adiante pouca diferença era notada na largura da superfície. A partir daí, distendendo-se para os lados, por uma distância de aproximadamente dois quilômetros suavemente se abria de lado a lado, alcançando no seu final uma largura aproximada de oitocentos metros no período de seca, e até mil e seiscentos metros no período chuvoso, para então se arremessar dez metros abaixo, em um desfiladeiro escavado em um paredão rochoso, que de largura não tinha mais do que oitenta metros.

Parecia um imenso lago que lembrava a forma de um coração.

Águas tranquilas, sem qualquer ondulação ou espuma. O fundo era perceptível em quase toda a sua extensão. Parecia raso. Um dos que sabia nadar desceu do barco e comprovou que deveras a parte líquida não lhe ultrapassava a cintura. Andando por ali percebeu que era um submerso tablado rochoso, com espaçados buracos iguais a determinada famosa marca de queijo.

A trezentos metros do seu final — bem centralizado — pela turbulência na superfície se concluía que, abaixo, por entre as pedras de basalto se formava um submerso estreito, um rasgo inicial de vinte metros de largura, que no final se alargava até aproximadamente oitenta metros, onde a superfície se tornava mais tumultuada. Desses trezentos metros finais até o local onde um canal se abria numa largura de oitenta metros, as rochas se fenderam dando formação a um estreito entre as pedras basálticas, por onde desvairadas, empurrando-se alucinadas, as águas passavam aceleradas.

Os homens percorreram uma razoável distância para finalmente encontrarem o que procuravam. Era uma cachoeira. Não tão alta e nem tão larga como presumiram. As águas espalhadas no remanso de aproximadamente oitocentos metros de largura, tresloucadas despencavam se acomodando dez metros abaixo, em um pétreo e estreito corredor escavado, canal medindo cerca de oitenta metros, fenda aberta e na qual podiam ser vistas emergindo, pedras colossais. Amparando o impacto do líquido, as gigantescas rochas provocavam uma estridência, cujo esganiçado zunido impedia o grupo de conversar. Era o “Canto das Águas”.

Em ambos os lados da separada saliência, extraviadas águas suicidas despencavam para o interior da garganta, embatendo-se violentamente contra as pedras do paredão rochoso. E, parecendo feridas, expeliam espumas antes de se juntarem às suas iguais, que se espremendo, aceleradas não se detinham no comprimido rasgão geológico.

Na superfície em forma de coração, lajedo Submerso.

Sem falarem entre si, entreolhando-se, aqueles homens compreenderam que no dia antecedente haviam se deparado com uma aparição que os resgatara da ceifadeira de vidas. Se tivessem prosseguido, arrastados pela enérgica correnteza, fatalmente sucederia um mergulho escabroso: caindo sobre as compactas rochas abaixo da cascata, não se safariam da morte.

Estudaram a situação e encontraram solução. Para contornarem as dificuldades navegariam de onde os barcos estavam recolhidos até ali próximo à cachoeira, antes da qual — imbicando — alcançariam a margem esquerda, mais acessível para descerem a diminuta encosta carregando as embarcações até o término da baixa montanha e reencontro com o rio, onde os barcos poderiam ser recolocados sobre a superfície líquida para prosseguirem a sua viagem.

Voltaram para a praia, posicionaram o barco sobre a água e remaram até a metade do submerso raso tablado rochoso, temendo percorre-lo mais. Apesar de vigorosos os remadores, se prosseguissem as embarcações teriam sido impelidas pela correnteza convergente, para o centralizado canal onde, aflorando a superfície, muitas colossais espalhadas pedras podiam ser divisadas. Naquela parte era impraticável o percurso pelo Canal. Desceram, carregaram os barcos sobre as costas e alcançaram uma aldeia que souberam chamar-se Chaveslândia. De imediato foram rodeados pelo sempre desconfiado povo matuto, alvoroçado com a chegada de estranhos que lhes relataram toda a odisseia por que passaram. Frêmito geral. Gritos de “milagre!” e “aleluia!” ecoaram por todo o arraial. E como o dia da aparição era consagrado (entre outros) a São Simão, atribuíram àquele acidente geográfico, o nome de Canal de São Simão.

Abaixo, fotos tiradas em agosto de 1930 pelo fotógrafo R. Siqueira (Foto Itiutaba), do acervo do Arquivo Público Mineiro provam que antes mesmo da Ponte dos Arcos ser construída, o nome CANAL DE SÃO SIMÃO já era atribuído àquela paragem, cujo Rio Paranaíba servia de divisor comum aos dois Estados adjacentes.

Depois que a rodovia e a sonhada ponte ficaram prontas, as terras de Gilberto Marquês, que começavam próximas ao Canal e confrontavam com o acostamento da estrada de rodagem, localidade a que os goianos afetuosamente chamavam de “Canal, Canal do Ribeirão, Ribeirão do Canal e ou Canal do Rio Paranaíba” enquanto que os mineiros referiam exclusivamente “Canal de São Simão”, no mesmo dia em que a ponte foi inaugurada (15 de dezembro de 1934) ele inicialmente as vendeu a três rioverdenses (Adélia Custódio de Oliveira, Avelar e Donato ou Donaldo Alves Prego e dois paulistas (Tibúrcio Pereira e José Gomes, oriundos de Porto Feliz/SP) que compareceram para assistir a inauguração da ponte, além de dezenas de garimpeiros que arredios, não deixaram os seus nomes gravados na lembrança dos demais, motivo de permanecerem anônimos.

Até então, poucas pessoas aceitavam permanecer naquela localidade. Unicamente arrojados empregados e familiares destes — por força das circunstâncias se mantinham por ali, substituindo os proprietários rurais. Os donos das terras não consentiam a prática do garimpo. Não obstante —aventureiros audazes — garimpeiros dissimulados invadiam as terras e se ocultavam nos latifúndios para exploração de jazidas. Mantinham-se dispersos, praticamente trabalhando individualmente. Enfrentando toda sorte de perigo. Para não deixarem indícios da sua indesejável presença, evitavam ajuntamentos.

Conduzindo tropas carregadas de pequenas encomendas (tropeiros), carroças lotadas de parafernália (carroceiros), carros de boi (para material mais pesado (carreiros), gado para ser levado para os frigoríficos de São Paulo (boiadeiros) esporadicamente por ali passavam e se deparavam com caça silvestre abundante, além de variadas espécies de peixes de descomunal tamanho. E não somente para variar a alimentação durante a viagem, se aproveitavam para abater animais e peixes: também para sortir as suas despensas domésticas.

Não demorou a que caçadores e pescadores igualmente começassem a frequentar o lugarejo. Chegaram até a edificar duas ou três cabanas na beira do canal, para se protegerem durante a rápida estadia por ali. A presença destes beneficiava os garimpeiros que, quando descobertos nas fazendas, paravam de joeirar e escondiam os seus apetrechos sob a água e alegavam ser caçadores ou pescadores examinando o ambiente.

A essa época, na cidade de Rio Verde quatro famílias (José Leopoldo de Bulhões Jardim, Sebastião Fleury Curado, Eugênio Rodrigues Jardim e Antônio Ramos Caiado) disputavam a manipulação do legislativo e judiciário, na aplicação do chamado “voto de cabresto”.

Em 1930 ocorreu uma revolução. Vitorioso, Getúlio Dornelles Vargas nomeia interventores para os diversos Estados brasileiros. Para Goiás foi designado Pedro Ludovico Teixeira (1930/1945), que no interregno foi eleito governador pela Assembleia Legislativa de Goiás, cargo que exerceu de 1935 a 1937 voltando, por determinação do mesmo Getúlio, a ser interventor no período de 1937 a 1945. Em Minas Gerais, governava Olegário Maciel, que foi mantido no lapso de 15.12.1933 a 04.12.1945, depois de encerrado o mandato do governador (Benedito Valadares Ribeiro) e de um político que procedeu a este.

Ao assumir os destinos do Brasil, era intenção de Getúlio ver povoado o interior da nação. Empenhou-se na Marcha para o Oeste, política que desenvolveu para incrementar e estimular a ocupação do Centro-Oeste brasileiro, determinando aos governantes que construíssem estradas, escolas e hospitais em seus territórios, na tentativa de estimular a volta dos colonos para a sua fixação no campo, eis que o êxodo rural prejudicara a lavoura e reduzira sensivelmente a população campestre.

Idêntico pensamento mantinha Pedro Ludovico Teixeira. Desejava ardentemente que o seu Estado se tornas-se populoso. Imediatamente combinou com o seu colega mineiro (Benedito Valadares Ribeiro), a construção de uma estrada de rodagem que ligasse o povoado de Nossa Senhora D’Abadia do Paranaíba (mais tarde Nossa Senhora D’Abadia e, em 1879, consequência da Lei nº 603, de 29.07.1879, elevada à categoria de Freguesia, com o nome de Nossa Senhora d’Abadia ou Capelinha, e finalmente, pelo Decreto Lei Estadual nº 17, de 24.02.1931 recebeu o definitivo nome de Quirinópolis, em homenagem a José Quirino) e uma ponte sobre o Canal do Rio Paranaíba, para continuidade da rodovia até Ituiutaba/MG. Cada governante assumiria a responsabilidade do percurso estadual total e metade do valor da ponte.

A Ponte dos Arcos (como era chamada em ambas as divisas) começou a ser construída em junho de 1931, terminou dentro do prazo previsto e foi inaugurada em 15 de dezembro de 1934, nada tendo a ver com o dia 28 de outubro de 1935, exclusivamente data consagrada ao San-to padroeiro do município. Canal de São Simão foi o nome que os mineiros já haviam atribuído antes de agosto de 1930 ao acidente geológico e que, quando da sua emanci-pação de Mateira, os goianos adotaram em respeito à de-signação legada pelos mineiros.

SÃO SIMÃO, ADEUS

O canal de São Simão, um dos mais belos monumentos naturais do Brasil, está em vias de desaparecer: em seu lugar surgirá mais uma usina hidroelétrica, destinada a suprir nossas crescentes necessidades energéticas. Sendo um país de privilegiado potencial hidroelétrico, o Brasil intensifica a exploração da força motriz que maior responsabilidade teve sobre nosso desenvolvimento industrial e urbano.
O Canal de São Simão é bem pouco conhecido. Situado no rio Paranaíba, no Estado de Goiás, resulta de uma curiosa formação geológica que divide as águas do rio. Para voltar a correr no leito comum, as águas vencem encostas laterais de rocha, numa extensão de centenas de metros. O filme documenta a inolvidável beleza de São Simão, legando a nossos descendentes uma informação sobre a sua existência.
Simultaneamente, desenvolve a análise das profundas transformações causadas, entre nós, pela expansão no fornecimento e no consumo de energia elétrica.

Ficha técnica
Som Direto: Romeu Quinto
Pesquisas: Marcia T. R. Kuperman
Narração: Othon Bastos
Fotografia: Plácido de Campos, Mario Kuperman
Direção de Produção: Guilherme Lisboa
Roteiro e Direção: Mario Kuperman
Produzido pela Futura Filmes

São Simão - GO

Fundação: 1934
Aniversário: 03 de outubro
Gentílico: canalense
População: 17.020 habitantes
Área: 415,015 km²